Sunday, December 10, 2006

Uba, uba, Dezembro rolando aqui à toda! Vamos ouvir mais!

Capítulo XX: Beer and Fangs

Eu sei que isso não interessa tanto à maioria das pessoas que passam por aqui para ler o que diabos eu estou fazendo na dinamarca, mas eu preciso comentar que as aulas de inglês na escola são de primeiro nível, pelo menos para os alunos que escolheram salas focadas no estudo de línguas e sociedades, como a minha. E sendo uma aula de alto nivel, podemos nos dar o direito de, ao invés de estudar exclusivamente gramática, já que isso a maioria dos alunos já manja bastante bem, fazer um parâmetro geral da literatura britânica no curso da história.

"Blá blá blá, Danilo!" certamente pensarão alguns leitores "Não queremos saber dessa baboseira de escola. Sabemos bem que tem cerveja nesse capítulo! Vamos à ela, pois onde há cerveja, há uma melhor chance de haver loirinhas!". Peco que tenham paciência, pois apesar de parecer improvável, é a literatura britânica que vai nos levar à cerveja. Acompanhem novamente a maravilhosa maneira com que o sistema escolar dinamarquês nos leva à beber cerva (de novo [mas não foi culpa direta da escola dessa vez]).

Pois bem, acontece que rola um camarada chamado George Orwell que escreveu um livro, que na minha opinião pessoal é bem bacana, que por sua vez se chama "Animal Farm". O livro não é considerado bem bacana só na minha opinião pessoal: muito pelo contrário, tem um monte de gente que usa palavras bem pomposas para descrevê-lo. Alguns até chegam a chamá-lo de "clássico", pensem vocês! Enfim, esse livrinho é considerado tão importante que mais de uma companhia de teatro resolveu adaptá-lo para uma peca, e uma dessas trilhou seu caminho até Odense, fazendo sua apresentacão, quem diria, ao mesmo tempo que eu e meus colegas comecamos a estudar seu autor na escola. Como dita a regra, quando esse fenômeno fantástico acontece, ficou marcado que nossa sala (fuck u noob danilo!!!!!!!)* se encontraria para ver a tal peca.

A peca foi bastante bacana, apesar de suas proporcões um tanto modestas: toda ela foi representada por apenas quatro atores, que tinham que atuar vários animais diferentes (e várias vezes atuar mais de um animal em uma só cena), sem poder usar muitos acessórios para nos fazer entender o que eles eram, além de fazer todos os efeitos sonoros, cantar, dancar e tocar vários instrumentos, tudo ao mesmo tempo e embolado no pequeno palco, que de cenário só tinha quatro paredinhas de 20 cm de altura e uma cadeira como uma casa, e um muro, que também tinha que sofrer suas próprias alteracões aqui e ali e ali de novo, e isso eles também tinham que fazer. Ou seja, muito trabalho para apenas quatro pessoas, mas tudo muito bem ensaiado e realizado, de maneira que fluia bastante bem. E a peca também estava cheia de piadinhas e besteiras, o que deixa tudo mais alegre. E óbvio, a peca era em inglês, então, pra variar um pouco, eu pude entender mais de alguma coisa que meus colegas dinamarqueses.

Vamos somar aqui alguns fatores, que tal? Vamos somar o fato de que a peca estava sendo apresentada no centro da cidade, com o fato de que ela comecava às 6 horas da noite, com o fato de que tem um monte de bares no centro que ficam abertos até tarde da noite. Temos que subtrair um pouco o fato de que era quinta, é verdade, mas mesmo com essa subtracão, a soma dos fatores nos leva à apenas uma conclusão: sim, meus caros, depois de ver a tal peca, como já estávamos todos lá, juntos e desocupados, resolvemos ir prum bar e "hygge os", coisa que mais que frequentemente significa nos embebedarmos, nem que seja só de levinho. Tenho que admitir que, pra um dia de semana, eu bebi um pouco além da conta. Não vomitei, nem fiquei falando merda, nem me esqueci de nada, mas... bem, digamos que voltando pra casa, tava meio difícil manter a bicicleta indo em uma linha reta o tempo todo, o que significa que eu tive muitas oportunidades de quase causar um acidente de trânsito. Para que ninguém se preocupe, gostaria de lembrá-los que minha perícia com uma bicicleta é tremenda, e que portanto em nenhum momento estava em verdadeiro perigo (não tentem isso em casa, criancas). Fora esse pequeno detalhe, foi bastante divertido, apesar de que é muito muito difícil acompanhar uma conversa, ou um jogo de cartas, em dinamarquês num bar barulhento.

Isso não tem nada a ver com o capítulo, mas uha!, depois de ver Casino Royale, o novo filme do 007, os animos de poker e jogos de carta estão altos por aqui. O próprio Ole vive falando que devíamos fazer uma "Poker Night" um dia desses, algo que ia ser bem bacana, acho eu, e ia merecer umas caipirinhas pra acompanhar.

*Sábias palavras do Frederick para todos.

Capítulo XXI: Julefrokost

Porque não comecar de cara esse capítulo com explicacões fenômenais do 'Fessor Danilo? Vamos ver a fundo esse título espetacular e bem elaborado que temos aqui: Julefrokost. Para os leitores assíduos, que não perdem nenhum capítulo, frokost deve soar no mínimo familiar. Para aqueles que não se lembrarem do significado ou aqueles que não viram os capítulos passados, frokost é "almoco", ou "jantar", ou simplesmente "refeicão", como queiram. Então já estamos falando de comida, coisa que é sempre boa... uhm... melhor dizendo, quase sempre boa. Vamos em frente então para jule. Se alguém adivinhou que é Julho, devo dizer: "Que bonitinho... MAS ESTÁ ERRADO!". Jule é nada mais nada menos que natal! Juntando as duas coisas, temos, portanto, uma refeicão de natal!

"Ah sim," pensarão alguns "um grande prazer da vida, sem dúvida, é reunir sua família para se entupir de comida e relaxar, aproveitando a proximidade das férias." E eu concordo plenamente com essa frase, mas me sentiria altamente compelido a adicionar algo à ela. Fosse eu repeti-la para o mundo, diria eu: "Ah sim, um grande prazer da vida, sem dúvida, é reunir sua família e/ou colegas intercâmbistas e/ou colegas de sala para se entupir de comida e relaxar, aproveitando a proximidade das férias." Agora sim, me parece correto.

Pois afinal de contas, não é isso que fiz? Sim, de fato eu fui à um julefrokost (tava mais pra juledessert) com a família, um julefrokost com o pessoal do AFS e sobretudo, um julefrokost com o pessoal da minha sala. Como eu acredito na idéia de guardar o melhor pro final, vou tacar um foda-se para a "ordem cronológica" (me deu vontade de por aspas aqui, ok?) e organizar tudo com esse fim. Vamos nós:

Parte 1: Com a família

Esse foi na verdade no dia seguinte ao julefrokost da classe, então eu estava realmente cansado aqui. Nem sei direito se foi um julefrokost de verdade, mesmo porque não foi nem ao menos uma refeicão de verdade que comemos lá. Ao que me parece foi mais um "juntar-algumas-pessoas-da-família-para-comer-uns-doces-e-uns-"pãezinhos"-danados-de-bons-que-só-se-comem-no-natal" (alguém reparou nas minhas fábulosas aspas dentro das aspas?), o que enquanto nem perto de tão elaborado quanto um julefrokost, é bem legal também. Não rolou nada demais mesmo, tanto que o Frederick e o Simon nem foram junto, e tudo que eu fiz foi comer e ficar naquele estado entre dormir e estar acordado enquanto assistia "Esqueceram de Mim 2". E eventualmente sendo trucidado pela alegria mortal de criancinhas felizes (tamanha é minha redundância).

Parte 2: Com os intercambas



Um bem simples e básico programa de AFS: juntar os intercambas na casa de uma das famílias hospedeiras pra comer e ficar de boua. Fiquei encarregado de levar o tradicional "Ris a la mande", uma espécie esquisita de arroz doce feito com uma espécie de amendoa engracada que por aqui chamam de "mande". Não faco a menor idéia de qual é o nome disso em português ou inglês, porque esse diabo dessa palavra nem está em dinamarquês. Enfim, o tal arroz é tradicional de natal porque existe toda uma brincadeira que acompanha essa sobremesa. Reza a lenda que aquele que achar, entre todas as várias mande's picadas que fazem parte da receita, a única inteira que é colocada dentro da mistura, ganha um presentinho! Olha só que alegria! Ainda não tive a sorte de ganhar nenhum mandegave (o presente) mas quem sabe um dia desses.

Enfim, o almoco do AFS só de boua mesmo, conversando com as minas que falavam português pra não perder o costume e tal, aproveitando pra falar mal dos dinamarqueses, e depois dos tailandeses, passando enfim pelos chineses, em direcão aos franceses (onde passamos um bom tempo), mandando um pouco de bala nos italianos e nos espanhóis, para só enfim, para não dizerem que não temos vergonha ou humildade, falar mal dos brasileiros e portugueses. Mas isso foi só o almoco! Teve muito mais tempo de ficar falando mal das pessoas depois quando a galera do português resolveu dar um passeiozinho até o centro, na esperanca de nos machucarmos bastante tentando patinar no gelo, o que não deu muito certo porque o lugar pra alugar os patins tava inexplicavelmente fechado. Ainda sim, andamos por aí, dividimos uma garrafa de vinho porque aparentemente é proibido sair de casa sem beber um mínimo de álcool, e ficamos de boua.

Parte 3: Com a classe (com classe)



Epa, essa sim bombou! Eu já tava sentindo que esse ia ser um jantar bombante desde o comeco do dia, então acordei super cedo, às 9 horas, pra me preparar pra tamanha bombacão. As preparacões foram deveras extensas, mesmo porque eu deixei tudo pra última hora. Então eu tinha que achar dois presentinhos de no máximo 10 kroners pra brincar de "pakkeleg" ('Fessor Danilo explica lá na frente), checar se estava faltando algum ingrediente pro meu brigadeiro, fazer o brigadeiro e descobrir como se chegava na casa onde íamos festar. Uau!

Achar os presentes foi realmente um desafio. Mesmo não importando muito o que seria o presente, demorou uma caraiada de tempo pra achar alguma coisa dentro da faixa de preco: 10 kroners não é nada! Andei pra cima e pra baixo no centro tentando achar alguma loja que sequer parecesse ter produtos que custavam menos que 50 kroners. Incluindo restaurantes! Mas eventualmente, achei um guaxinim de pelúcia em super-hiper-promocão, e peguei uns negócios que se parecem muito com brigadeiros, mas são muito piores.

Bem, voltando pra casa, estava tudo jóinha pra fazer brigadeiro, então depois de um almocinho rápido, mando ver na panela! Infelizmente, apesar de toda minha boa vontade e esforco, falhei novamente em dar o diabo do ponto certo na panela, então de novo eu tinha um brigadeiro que simplesmente não podia ser emboladinho (eu não tinha tempo o suficiente de esfria-lo até um ponto bom para isso). Aliás, depois quero ter uma conversa com os e as cozinheiras de plantão que aparecem por aqui, porque o negócio simplesmente não tá dando certo e eu me recuso a sair daqui até fazer o negócio direito. Bom, enfim, depois de uma solucão um tanto não convencional do Ole sobre como levar todo o brigadeiro para lá (acompanhada de protestos do Lukas que muito preferia que o brigadeiro ficasse em casa), só me faltava descobrir como chegar lá. E ora bolas, isso foi tão fácil de descobrir que eu só pude rir. A casa fica tão perto do zoológico, que é tão perto da floresta, que é tão perto do lago, que é tão perto do supermercado que é tão perto da minha casa que não tinha como errar!

Bem, então lá fui eu ao jantar. Mesmo antes de chegar na casa, encontro umas colegas minhas à caminho do lugar, e já bem envolvidas em fofocagens, o que eu pessoalmente tomei como um bom sinal, e me juntando às loirinhas, logo mais estávamos lá. Naturalmente, cada pessoa da sala ficou encarregada de uma parte da refeicão, além dos presentes, então chegando lá a primeira coisa é deixar e talvez fazer algo na cozinha e deixar os presentes em um canto. E como todo mundo chega mais ou menos ao mesmo tempo em uma festa dinamarquesa (esse costume esquisito de NÃO se atrasar), temos bastante trabalho na cozinha e um pequeno caos no canto, mas tanto um trabalho quanto um caos bem alegres, cheios de saudacões e conversacão animada, para a alegria geral.

Quando todos já contemplamos por tempo o suficiente toda aquela comida apetitosa e cheirosa que trouxemos para ficarmos com uma fominha bem danada, nos vêm uma notícia das não tão boas: a loirinha que iria trazer o rugbrød (que, para uma refeicão tradicionalmente dinamarquesa como a que estavamos prestes a fazer, é mais importante que arroz num almoco brasileiro) iria chegar um tanto atrasada. Sendo brasileiro, naturalmente eu compreendo perfeitamente que atrasos são uma parte da vida e, mesmo faminto, aceito a espera numa boa. Já meus colegas dinamarqueses, alguns mais que outros, estão naturalmente ofendidissimos com essa horrível demonstracão de falta de modos e desrespeito ao ideal de "estar lá na hora". Naturalmente, procurei defender um pouco os interesses da loirinha atrasada, não apenas por ser uma loirinha, mas por ser uma compatriota no que se deve a atrasos indevidos.

Bueno, cedo ou tarde um dos nossos colegas fica com tanta fome que vai buscar o rugbrød, trazendo a menina junto tão somente por um questão de praticidade. Resolvido o problema, sentamos todos e vamos à comida! Mas esperem, não, ainda não podemos ir à comida: uma das loirinhas gostaria de falar algo antes. Eis que descobrimos que ela concebeu uma pequena brincadeira para a noite, uma um tanto engenhosa, eu diria. Debaixo de cada um dos nossos pratos estava um pedaco de papel que nos dava uma certa "tarefa" a ser feita ao decorrer das próximas duas horas, o tanto quanto possível, enquanto jantavamos, sem é claro, contar pra ninguém nossa tarefa. Quando as duas horas acabassem, tentariamos então adivinhar qual era a tarefa de cada pessoa, e aqueles que tivessem realizado suas tarefas com louvor, ganhariam um prêmio.

Não sei quanto à vocês, mas pra mim pelo menos isso soou um tanto esquisito sem saber direito que tipo de tarefas eram. Então abro quão logo quanto possível meu papelzinho e... ... ... putes grila! Não consigo traduzir direito meu papelzinho! Mas que vergonha, eu não devia ter um diabo dum "dinamarquês super avancado"? Enfim, foi na verdade uma sorte eu não ter entendido esse papel, já que a tarefa contida nele era um tanto... infeliz. O meu primeiro papelzinho tinha como tarefa "limpar a boca da pessoa a seu lado". Sabem, naquele estilo bem "tia-gorda-e-irritante"? Enfiando seu guardanapo e seu dedo impiedosamente na cara dos outros e tudo mais? Felizmente pude trocar meu papelzinho, e meu segundo era um tanto melhor. Esse dizia que eu deveria "comentar o cheiro da comida".

Pode parecer um tanto simples comentar o cheiro da comida freneticamente durante duas horas, mas não é. Acontece que apesar de ser importante realizar sua tarefa para ganhar presentinho, ainda são duas horas em que você está jantando, e bebendo, e conversando, e fazendo todas as coisas que você faria se não tivesse recebido uma tarefa. Então escolher os momentos certos de elogiar a comida era vital. Além do que, uma pessoa gostaria também de ficar de olho aberto pra achar a tarefa dos outros. Coisa que se tornava gradualmente mais difícil à medida que o jantar progredia, pois quanto mais jantar, mais bebida.

Aliás, falando em bebida, eu tenho que dizer, os dinamarqueses levam certas tradicões longe demais. É uma coisa você acender uma vela que faz uma contagem regressiva dos dias até o natal. É outra completamente diferente você engoelar repetidas vezes uma porcaria duma espécie de cachaca com um gosto absolutamente horrível chamada "Snaps" durante um julefrokost. Acender velas é uma tradicão perfeitamente respeitável, enquanto tragar uma bebida que tem o gosto mais desagradável e grotesco que já foi concebido, não. E notem que todos nós éramos unânimes em dizer que a bebida tinha gosto ruim, então não é nenhuma questão de pontos de vista diferentes. Mas enfim, como tradicão é tradicão, snaps away! Falando um pouco mais em bebida, descobri que uma das minhas colegas de classe é uma bartender das boas, nunca vi uma mocoila tão perita em fazer drinks gostosos. Só pra comentar mesmo.

Bem, depois de um monte de comida, snaps, conversacão e jogo de handbol (no qual a dinamarca estava chutando a bunda de um outro país aí), chega a contente hora de descobrir qual era a tarefa de quem, coisa que se prova um tanto divertida, com certas tarefas memoráveis como a de elogiar a pessoa à sua frente, que gerou protestos exaltados da pessoa elogiada que se sentiu um pouco traída, a de gritar em excesso, que foi uma das mais rápidas a serem adivinhadas, a de ser amável e amigável com todos, que acabou tomando conotacões inesperadas (ou esperadas talvez, sei lá), e a de roubar comida do prato dos outros, que durante o jantar rendeu reacões um tanto engracadas.

Eis que nos chega a hora da sobremesa, e trazemos em frente, é claro, o nosso simpático ris a la mande, com todos na expectativa de tentar ganhar o presente e tudo mais. Como já falei antes, não tive a sorte de ganhar o presente, e mesmo assim dei um presente aos meus colegas, trazendo logo mais o brigadeiro para todos provarem. Apesar de ser um brigadeiro meio lascado e mal servido, caiu nos gostos do pessoal, e logo mais estava recebendo vários elogios e agradecimentos por todo o meu "longo e árduo" trabalho na cozinha de várias loirinhas.

Depois de muita alegria achocolatada, é hora do pakkeleg!! Bem bem bem, temos 'Fessor Danilo pra não termos problema: pakke não deve ser tão difícil de imaginar, já que é meramente um "pack", ou seja, um pacote. Leg, acreditem vocês, não é perna, e sim brincadeira, bem de crianca mesmo. Pakkeleg portanto, é a brincadeira dos pacotes. E dentro de pacotes, todos sabemos que tem presentes, e onde tem presentes tem diversão de montão, e onde tem brincadeiras tem diversão de montão, então essa brincadeira é muito esperta, porque vem diversão de todo lado! Enfim, as regras são simples: primeiro juntamos todos os presentes numa grande pilha de presentes no meio da mesa. Segundo, comecamos a primeira rodada do jogo, onde temos três dados (3d6 pra galera do rpg representando!) circulando a mesa, sendo lancados por todo mundo várias vezes. Toda vez que você consegue um 1 ou um 6, você pega um presente da pilha de presentes. Assim que a pilha de presentes acabar, comeca a segunda rodada do jogo, onde de novo os dados circulam a mesa, mas dessa vez, só quem conseguir um 6 pode roubar o presente de outra pessoa.

Acho que não preciso dizer que, sendo que temos três pessoas jogando o dado ao mesmo tempo em todos os momentos e muita roubalheira de presentes rolando, o negócio é bem bem bem caótico, o que só serve mais para ser divertido, especialmente quando certas ladroagens são interpretadas como pessoais (uma boa imagem mental de referência é uma menina jogando impiedosamente um pacote um tanto grande e pesado direto na cara do rapaz que tinha acabado de roubá-lo). E quando o jogo acaba, ainda mais alegria, porque todo mundo abre os presentes ao mesmo tempo (todo mundo tinha ao menos um) e contempla a maravilha ou a porcaria que ganhou (eu pessoalmente não fiquei tão emocionado com meus presentes), naturalmente já usando* ou comendo os presentes favoritos. O que é a maior alegria, porque todos podemos ver o pessoal se entupindo de doces e usando todo tipo de tranqueira esquisita de uma só vez, e podemos roubas alguns dos doces e partilhar algumas das tranqueiras, fazendo com que o clima geral seja de fraternidade, companheirismo e caos absoluto.

*


Depois de tudo isso, nada como se sentar, relaxar e ficar bebericando uma cervejinha, comendo quanta junk-food seu estômago ainda abrigar e conversando com o pessoal até às 4 da manhã, quando finalmente, com bastante sono e bastante cheio, você volta para casa para dormir até quando seu irmãozinho entrar subitamente em seu quarto pra falar qualquer coisa com qualquer coisa que você não vai lembrar porque estava com muito sono.

Eita, já ia me esquecendo de um detalhe importante. Teve só uma coisa que foi extremamente negativa nessa noite. Essa foi a noite em que a selecão musical já naturalmente pobre dos dinamarqueses atingiu seu ponto mais baixo, e portanto ouvimos várias vezes durante a noite, entre os outros tecnococôs (agradecimentos ao Soba por conceber essa expressão maravilhosa) que acompanhavam, a versão do Basshunter (esse fidamain) de Jingle Bells. Suponho que vocês consigam imaginar o horror que foi.

Bem criancas, foi "só" isso por hoje. Como sempre, mal posso esperar pelos comentários, mesmo os curtinhos, de todo mundo que tem a paciência de ler o livro que estou escrevendo aqui. Mas hoje pelo menos o livro ganhou ilustracões, então chequem os capítulos anteriores para achar mais gravuras! Algumas gravuras só ficam de cabeca pra cima depois, tá?

Friday, December 01, 2006

Acho que é apenas correto que comecemos Dezembro em grande estilo com uma postagem devida. Não sei se vou arranjar o suficiente pra contar, mas escadana-se, qualquer coisa eu comeco a escrever qualquer coisa sobre algo.

Capítulo Tédio: Syghus (Hospital)

Me parece, de verdade, meio idiota continuar falando sobre a idiota da doenca ainda, especialmente considerando que eu já estou a 114,9% de novo. Mas eu suponho que seja de fato curioso eu ter ido parar num hospital, assim de repente, então em frente com a história. Pouco depois do incidente do futebol (ou seja, antes, na verdade, da peca da escola), o que era uma gripezinha normal já tinha durado quase uma semana e estava realmente tirando todas as forcas do meu corpo, lascando com o meu apetite, e fazendo de mim uma massa nojenta de catarro e germes embrulhada em carne e pele. Logo pareceu apropriado ir até o médico e ver quão lascado eu estava. Entre os longos períodos de espera a que fui submetido, os rápidos exames de sangue e de "ouvir minhas costas" que ele fez revelaram que, de fato, eu não estava tão bem, e logo ele me receita uma penincilina. Lá vamos nós na drogaria arranjar a dita cuja, o que também envolve esperar muito tempo numa sala que, de tão pequena, fazia um elevador parecer um palácio, mas nós pegamos e remédio e vamos para casa.

Depois de quatro dias de penincilina sem efeitos, resolvemos voltar para o médico e descobrir o que ele tem para dizer. Ele repete as doses de nos fazer esperar e de fazer rápidos exames de sangue e audicão. E conclui que eu não melhorei nem um tiquinho depois dessa penincilina toda. O que nos leva à sugestão e ir tirar um raio x do meu pulmão no hospital. Okei, maravilha, no dia seguinte, vamos nós para o hospital, onde novamente, eles testam nossa forca de vontade com mais longos períodos de espera, tanto para tirar o raio x, quanto para pegar as fotos do raio x. Quando vamos pegar as fotos do raio x, para minha grande surpresa, também nos pedem para ir para o segundo andar para que eles pudessem me internar... "Ops! Calma lá cowboy, eu não vim aqui ser internado não! Só queria uma fotinha do meu pulmão!" eu pensei comigo, mas como estava excessivamente doente para fazer uma fuga ousada, tive que me deixar levar para o segundo andar e ser efetivamente internado. Ai ai ai...

Okei, não sei quantos dos meus leitores já foram internados, e sob que condicões, mas minha experiência com ser internado é ficar extremamente sem graca. Quero dizer, de repente eu só estou usando uma espécie de camisa longa de botão de pano e minha cuequinha de bolinhas, no meio de um lugar excessivamente público... Pou, simplesmente não tinha como eu achar isso legal. E logo mais eu estou lá, deitado na cama, sem fazer nada. O Ole, que me acompanhou para a foto de raio x, me fez compania o quanto ele pode, mas logo logo ele teve que ir para casa.

E eu fiquei lá, ouvindo a tv do "cara-na-cama-em-frente-à-minha-que-só-falava-inglês" e no geral não fazendo nada mais que oferecer meu braco de vez em quando para que uma enfermeira pudesse me furar para um ou outro propósito. Toda a idéia de eu ficar internado no hospital é apenas para que eles pudessem injetar uma penincilina mais pesadinha direto na veia, então em pouco tempo eu tenho um tubo preso na minha mão direita, e por algum motivo, o médico acha que é uma boa idéia eu receber oxigênio para poder respirar mais fácil, então também fico com dois altamente incômodos tubos plásticos em minhas narinas, que na verdade faziam respirar ser um trabalho um tanto mais árduo que antes. Fiquei um tempo ponderando o quanto ter essas duas coisas, no meu caso ao menos, faz você se sentir muito mais fraco, doente e anêmico do que você de fato está.

Bem, mais tarde da noite, o Ole, a Lone, o Lukas e o Simon passam para dar uma visita, e eles trazem com eles três grandes companheiros que eu teria durante meu período de doente: uns quandrinhos do Anders And (Pato Donald), um pocket book chamado Cold Fire (que é interessante até, mas tem um final mais brega que um orangotango de vestido) e uma compilacão de inúmeros jogos de Sudoku num livrão gigantesco. Depois que eles se vão, passei bem umas três horas entre essas três coisas, mais uma hora fazendo o equivalente de contar rachaduras do teto num lugar em que o teto não tem rachaduras, e aí de algum modo dormi.

No dia seguinte, mais tira sangue, mais do meu trio anti-tédio, mais penincilina. Até que, em fim, já bem de noitinha, o médico me conta que essa penincilina também não está fazendo efeito algum, e que portanto eu vou ser liberado, já que meu próximo remédio eu podia tomar em casa. Demorou! Finalmente eu tenho permissão de usar roupas de novo, e depois de uma breve espera pelo meu táxi, estou a caminho de casa. Notem que eu peguei o táxi porque a família toda estava na festa do avô, e a Lone achou melhor eu não ir me juntar a eles porque tinha uma penca de fumantes lá, o que não era nada bom para alguém com infeccão pulmonar. Então chego na casa vazia, leio mais um pouco e me vou para a cama.

Voltando um pouco a fita, tenho que dizer: eu reclamei muito do hospital, mas haviam coisas boas. A comida, apesar de só servida muito de vez em quando, era até bastante boa, até mesmo o rugbrød que eles usavam era de primeira qualidade. Além disso, as enfermeiras eram super-duper-prestativas, e não paravam de me oferecer coisas. De todo o tempo que eu passei lá, só houveram alguns poucos minutos em que eu não tinha uma bebida saudável e gostosinha na minha mesa. Aliás, se eles parassem com essa frescuragem de "hospital" e abrissem um restaurante ao invés disso, eles tavam feitos. Ouh bem, acho que eles gostam do privilégio que eles tem de fazer todo mundo tirar as calcas quando vai lá.

Para terminar, só gostaria de notar que, dois dias atrás, eu fui de novo para o hospital para tirar novas fotos do meu pulmão, pra garantir que ele tá bonitinho de novo. O que eu achei curioso foi que, dessa vez, que eu estava perfeitamente saudável e portanto, muito melhor preparado para esperar um tempão, eu não tive que esperar quase nada, em contrapartida a muita espera que eu fiz quando fui lá dá primeira vez, quando estava cansado e sem disposicão. Meio irônico, eu acho.

Capítulo XIX: Frikadeller (Brigadeiro)

Eu disse outro dia que eu ia fazer brigadeiro pra família, usando uma das fantásticas latas de leite condensado que minha mãe me mandou pelo correio. E foi isso que eu fiz, como prometido. Acho que foi uma sexta (minha nocão dos dias foi pro espaco quando fiquei doente), finalmente toda a família confirmou presenca no jantar, o que me deu sinal verde para fazer quitutes brasileiros. Belezura, belezura, isso ia ser moleza! Eu tinha meu leite condensado, eu tinha panelas e utensílios de cozinha de todo tipo a minha disposicão... Isso ia ser moleza. Só me faltava a manteiga e... o chocolate em pó. Ai ai ai... o chocolate em pó. Eu sinceramente não pensei que ia ser tão difícil achar chocolate em pó. No bom e velho Netto, o supermercado que tem aqui pertinho, eu tive que procurar por meia hora para achar o que eu imaginei ser o chocolate em pó, ou o mais próximo disso que eu poderia arranjar. Eu tinha duas possibilidades: a primeira, era um esquema do tipo Toddy, chamado Oboy, que tinha lá no supermercado. Notem todos que, achocolatados não são uma parte da cultura dinamarquesa (o tal Oboy, de fato, era importado, e coberto de sueco e norueguês). Minha outra possibilidade era Kakao, que definitivamente vinha em pó mas... bem... se fosse realmente cacao, e não chocolate, acho que não ia dar muito certo. O Ole resolve o caso comprando ambas as coisas, para que eu pudesse provar em casa e me decidir qual seria o melhor.

Depois de um jantar bem bacana, foi minha vez de arregacar as mangas e mandar ver na penela. E fazer brigadeiro, que é uma das coisas mais fáceis de se fazer do mundo inteiro, usando o Kakao, que se provou enormemente parecido com chocolate em pó como nós o conhecemos. Então eu não tenho muito como fazer isso soar como algo lá muito épico. Especialmente quando eu ainda tive a habilidade de fazer merda, tentando fazer bolinhas (eu só ia fazer umas para mostrar como é que é) com um brigadeiro que ainda estava muito, muito, muuuuito liquído para isso, e portanto, me lambuzando todo com a massa semi-pronta de brigadeiro. Mas enfim, depois de um pouquinho de tempo na geladeira, o brigadeiro está good to go, e ele é colocado a prova contra o brigadeiro pronto de latinha que minha mãe também mandou (apesar dos avisos de meu irmão de que ele era uma porcaria). E, com a unanimidade dos votos, meu brigadeiro caseiro foi declarado o melhor! Hurra! Apesar de toda minha falta de capacidade como cozinheiro, eu prevaleci, e já estou planejando a próxima oportunidade de fazer mais brigadeiro para outras pessoas (afinal, para o bem da ciência, eu preciso saber qual é a resposta das loirinhas à doces brasileiros, certo?).

Capítulo XX: Beer and Fangs

Esse fica pra outro dia. Talvez eu só edite esse post e adicione ele depois, já que ele não é lá grandes coisas, mas vale mencão.

Até a vista, bebê!